Alerta de um filho
“O hábito do trabalho modera qualquer excesso, induz à necessidade de organização, ao gosto pela ordem; da ordem material chega-se à moral: portanto, o trabalho pode ser considerado como um dos melhores auxiliares na educação.”
-- Massimo Azeglio
Pai, mãe, olhem para mim, eu sou uma criança ainda, este tempo passa rápido, por isso, para que não se arrependam: ouçam-me, escutem-me, mesmo que seja uma grande tolice “para vocês que são adultos” , deem importância aos meus problemas e nunca digam que é só coisas de criança, ajudem-me a entende-los, sou mais esperta do que vocês pensam .
Principalmente, ouçam os meus desejos, prestem atenção às minhas birras, posso estar a dizer coisas através delas, na verdade posso estar a esconder a falta de atenção, carinho, a falta que sinto de vocês, ou de um de vocês, porque o trabalho ou outras coisas tomam demais o “vosso tempo” e para mim resta só um pouquinho ou quase nada e às vezes sinto-me solitária no meio de vocês os dois.
Pai, mãe, para que não se arrependam: educar dá muito trabalho, dêem-se ao trabalho de me educar, por favor não deixem para trás a minha educação, não fiquem a pensar que a “ama” a “avó” ou a “tia” são uns anjos e que podem muito bem cuidar de mim quando vocês não estão, não achem também que a escola é que deve realmente educar-me, não deixem também que o computador (jogos ou internet) , ou a televisão tomarem conta de mim ,lembrem-se vocês são insubstituíveis ,eu quero te a ti pai, eu quero-te a ti mãe.
Ah! Pra que eu não dê trabalho não me deixem acreditar que os meus desejos são todo-poderosos, é necessário que eu aprenda a ter limites em minha casa para que noutros ambientes eu não cause frustrações nem a vocês, nem aos outros e que fique a pensar que tudo posso e que sempre serei o centro das atenções, se não fizerem isso sofrerei mais tarde ou mais cedo do que estou a pensar.
Para que não se arrependam: não falem dos vossos problemas perto de mim, não discutam perto de mim, o meu coraçãozinho bate forte, e morro de medo de que um de vocês se vá embora.
Pai, mãe, eu preciso, eu necessito de uma formação religiosa, e é vossa obrigação educar-me neste sentido, eu preciso de aprender verdadeiramente quem é o Pai do Céu e aí quem sabe se vocês estiverem afastados de Deus eu poderei ser a ponte de ligação entre vocês.
Antes que vocês se arrependam: pai, mãe, deixem-me eu ser criança, e sejam também crianças para brincar comigo, afinal brincar é o que faço de mais importante e é o que há de mais sério também, mas vocês não entendem, quando há coisas espalhadas na varanda ou no quarto, quando há um lençol pendurado no sofá e vocês me fazem guardar tudo quando chegam do trabalho, sem se darem conta que acabaram com a minha “cabana”, ou com o meu “castelo” e ainda me fizeram “destruir” todas as outras construções que saíram da minha imaginação e nem me deram tempo para explicar que o que tinha feito era para vocês verem do que eu era capaz de fazer ...
Sabes pai, sabes mãe às vezes me sinto-me um estranho dentro da minha casa, não posso correr, não posso dar meus gritos de alegria, nem os meus risos de alegria, porque vocês me chamam a atenção porque é hora do jornal ou da novela, ou por que estão ao telemóvel e é precisamente nessas horas que deveríamos estar mais juntos a aproveitar esse pouco tempo que temos, afinal vocês passaram o dia todo no trabalho ...
Um beijinho,
Filho/a
Maria de Fátima V.R. Cristão
28 de Março de 2014 in loja online Livros que falam